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Economia

Para Fabio Kanczuk, ‘BC do futuro’ vai mirar no teto da meta de inflação (4,5%), e não no centro (3%)

Ex-diretor do BC considera que os indicados pelo governo agiram, sim, com viés político. E que a meta real será mais frouxa

Ninguém entendeu direito o que levou quatro diretores do Banco Central a votar por um corte de 0,5 ponto da Selic – e não em 0,25 ponto, como a maioria do comitê. Sem explicações técnicas convincentes, o que parece é que a ala dissidente fez mesmo uma escolha puramente política.

E isso deve se traduzir numa piora das expectativas de inflação, menor espaço para cortes adicionais de juros e, dessa forma, um acirramento da queda de braço entre governo e Banco Central. Eis a leitura de Fabio Kanczuk, head de macroeconomia da ASA Investments e ex-diretor de Política Econômica do Banco Central.

A ata do Copom, divulgada na manhã desta terça-feira (14) diz que todos os diretores concordam que o cenário de inflação ficou mais preocupante.  Mas diz também que quatro diretores, a despeito dessa deterioração, entenderam que o corte deveria ser mais uma vez de 0,5 ponto por causa do guidance (indicação futura) da reunião anterior, em março.

Ou seja, o BC deveria cumprir com aquilo que havia se comprometido, independentemente da piora no cenário que desenrolou-se desde então.

“Só que ninguém acreditou nessa explicação. Esse guidance era condicional. Ou seja, o 0,5 ponto só seria uma opção caso o cenário continuasse favorável, o que não aconteceu”, explica Kanczuk.

Além disso, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, já havia avisado, em Washington, que a tal sinalização de que haveria um novo corte de 0,5 ponto não estava mais valendo, diante da piora do quadro geral.

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A cereja do bolo, diz o economista, foi o fato de que os diretores dissidentes repetiram a mesma afirmação feita pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, logo após a reunião do Copom. Haddad citou justamente o “guidance” como justificativa para os votos em 0,5 ponto da Selic. 

“Foi coincidência? Acho que a verdadeira história é que esses diretores querem uma política monetária mais frouxa”, afirma. “E isso indica que o próximo presidente do BC será alguém que gosta mais de tomar risco em relação à inflação.”

Esse novo perfil do BC, na visão de Kanczuk, é coerente com a forma como a política fiscal está sendo conduzida pelo atual governo. “Vai ter uma meta, mas acho que o BC vai voltar a mirar o teto [4,5%], e não mais o centro [3%]”, explica. “Acho que a discussão sobre qual será a meta a ser perseguida vai voltar à pauta e a coisa deve ir degringolando, como está acontecendo com o fiscal.”

A preocupação com os efeitos de uma interferência política sobre a condução dos juros parece um teste à autonomia formal da autarquia, que passou a valer em 2023. Kanczuk aproveita o momento para lembrar que, sem ela, tudo poderia ter sido bem pior. A independência do BC, afinal, já vem funcionando como um mitigador de crise. Sem ela, todos os diretores do BC teriam sido substituídos simultaneamente no início deste governo. E isso poderia ter sido a porta para uma política monetária leniente de fato – uma espécie de dé javù do governo Dilma.

Em um Banco Central autônomo, cada diretor passa a ter o seu próprio mandato. Isso significa mais espaço, inclusive, para divergir do presidente do BC – é bom lembrar que, no modelo anterior, era ele quem montava o time, o que reduzia muito a chance de dissenso. Esse espaço para visões diferentes, que se vê em bancos centrais como o americano, o europeu e o britiânico, é saudável, diz Kanczuk.

Por outro lado, os argumentos técnicos que embasam os votos de cada um dos diretores precisam estar muito bem explicados, especialmente na ata da reunião, como fazem esses outros BCs. Não foi o caso agora.

“Estamos ainda no meio do caminho, ainda distantes do que faz o Fed”, afirma. E mesmo nesses países onde a autonomia do BC é algo consolidado, há o risco de alguma pressão política. “A questão”, conclui Kanczuk, “é saber como iremos atuar para não perder a independência”.

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