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    • Danniel Barbosa - Gestor de conteúdo da Politize!
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    • Danniel Barbosa - Gestor de conteúdo da Politize!

      Danniel Barbosa é gestor de conteúdo da Politize!, organização da sociedade civil brasileira de educação política.

      Daniel é formado em Relações Internacionais, pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Atualmente, é mestrando em Política Internacional, com especialização em política e governança cibernética.

      Além de ser membro dos grupos de pesquisas e extensão em Segurança Internacional e Defesa (GESED- UFSC) e estudos estratégicos e política internacional contemporânea (GEPPIC – UFSC).

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    opinião

    Futebol, religião e política: como eles se relacionam?

    Se você nasceu no Brasil nas últimas décadas, em algum momento da vida, já deve ter ouvido a expressão “Política, futebol e religião não se discutem”. Na prática, contudo, o que estamos vendo acontecer é algo bem oposto a isso. Quando falamos de  religião, não precisamos ir muito longe. A eleição de 2022 no Brasil foi protagonizada por debates envolvendo diversas temáticas religiosas e a disputa pelo eleitorado religioso teve papel de destaque nas campanhas.

    Quando entramos no campo da política, a questão fica ainda mais clara: as manifestações de 2013 abriram portas para que a política entrasse novamente na vida do brasileiro, e, de lá para cá, não saiu mais. Das mídias sociais às bandeiras em prédios e carros, passando até mesmo por relações familiares – presenciais ou nos grupos de WhatsApp – hoje é muito difícil encontrar um espaço em que a política não esteja sendo discutida. O ponto positivo disso é uma maior margem para debates construtivos sobre os melhores rumos para o país, ou quais políticas públicas precisam ser criadas ou melhoradas para garantir melhor qualidade de vida para a população.

    Alguns fatores, no entanto, se colocam como um obstáculo para que esse debate aconteça de forma mais frutífera. Um deles é a polarização associada a uma dificuldade de diálogo. Dados da pesquisa realizada pelo Despolarizar, pelo Instituto Locomotiva e pela Fundação Tide Setubal apontam que 73% das pessoas acreditam que pessoas com opiniões diferentes não conseguem ter um diálogo construtivo – sendo que mais da metade (51%) admite desistir de conversar sobre política em algumas situações. Outro é a disseminação de notícias falsas. Uma pesquisa recente do IPEC revela que 85% dos brasileiros acreditam que as notícias falsas poderiam influenciar no resultado das eleições. Há ainda, o fator da baixa cultura e da baixa participação política no Brasil, que vêm sendo apontados já há algum tempo pelo Democracy Index.

    Ou seja, mesmo com a política sendo discutida, ainda há um caminho a ser percorrido para que essa discussão seja produtiva, respeitosa e efetiva. E esse caminho passa por uma educação política de qualidade, bem embasada, plural, didática e acessível, que permita compreender a política desde suas bases (o que faz um prefeito, o que é uma política pública, o que faz o Congresso Nacional e outros) e que traga as diferentes visões sobre os debates sociais de forma suprapartidária, para quebrar estereótipos e proporcionar elementos para um diálogo saudável.

    Mas e o futebol? Ele é discutido? E como se relaciona com todo esse contexto de debate político? Para entender isso, não precisamos ir muito longe. Além das tradicionais discussões entre torcedores, em mesas de bar, sobre qual time é melhor – que por si só já demonstram que discutir futebol é parte da cultura brasileira – não faltam exemplos de como futebol e política têm estado cada vez mais próximos.

    Quando olhamos para o Brasil, a Copa de 2014 é um bom exemplo. O debate que antecedeu o evento foi marcado por manifestações que entoavam o grito “Não vai ter Copa”, em um questionamento aos valores financeiros que estavam sendo investidos no evento enquanto o país passava por outros problemas estruturais. O evento aconteceu, mas as discussões não pararam por aí.

    Mais recentemente, por exemplo, o uso da camisa da seleção brasileira se tornou motivo de debate. Isso porque o verde e amarelo, tradicionais dessa camisa, foram associados, ao longo do anos, à visão política de um grupo. A consequência disso é que o próprio uso da camiseta foi colocado em pauta durante as eleições de 2022, pela possibilidade de que, em meio ao contexto de polarização vigente, pudesse “gerar animosidade” entre eleitores. Ainda, têm se discutido sobre o posicionamento político de jogadores da seleção, como o caso de Neymar, tanto com a exaltação do posicionamento por alguns, quanto com questionamentos por parte de outros.

    E esses exemplos recentes estão longe de serem os únicos. Política e futebol já se cruzaram em diversos momentos ao longo da história, no Brasil e no mundo. Seja com o futebol sendo instrumento para o reforço ao patriotismo durante a Ditadura Militar no Brasil, em 1970, seja com o punho cerrado de Reinaldo na Copa de 1976, seja com o apoio ao “Movimento Diretas Já” por parte de membros da chamada “democracia corinthiana”, como Sócrates, na década de 1980. Os dois últimos exemplos sendo referência de como o posicionamento político de jogadores não é uma novidade no Brasil, ou mesmo em outros países, como na Espanha, onde o estádio do Barcelona é um dos principais campos de manifestações políticas pela independência política da Catalunha.

    Em 2022, estamos diante de uma Copa do Mundo que, pela primeira vez, será posterior às eleições. E se, por si só, a Copa do Qatar já é cercada de debates, tanto pelas condições de trabalho para a realização do evento, quanto por possíveis episódios de corrupção, ou mesmo pelo choque cultural que poderá proporcionar aos visitantes, no Brasil, dado o contexto, a tendência é que seja mais um episódio no qual a política seguirá envolvida. As perguntas que surgem são muitas: teremos novos posicionamentos de jogadores durante a Copa? Como ficará o uso da camisa da seleção brasileira? Como um possível hexa será utilizado pelo candidato eleito?

    Independente das respostas, uma coisa é certa: não há como não se discutir futebol, política e religião no Brasil. Mas há sim como fazer com que essas discussões sejam mais produtivas, melhor embasadas e mais plurais. E uma vez que o futebol está intrinsecamente ligado à política, nessa Copa e nos momentos posteriores a ela, a educação política para o exercício cidadão continuará sendo uma peça fundamental para garantir que as discussões que envolvam quaisquer assuntos, de religião ao esporte mais amado do país, sejam saudáveis, por mais diferentes que possam ser as visões e opiniões dos envolvidos.

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